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Antonio Bonomi: Nova especificação e matérias-primas


BiodieselBR.com - 03 mar 2007 - 12:56 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 09:52
Revista BiodieselBR A nova especificação da ANP, que começou a vigorar em julho passado, foi um avanço?

Antonio Bonomi
Foi um avanço sim, porque acabou definindo valores em vários pontos. Mas o índice de iodo, por exemplo, é uma questão que não ficou resolvida. A especificação brasileira ficou com um índice de iodo maior que a européia, para permitir justamente a produção de biodiesel de soja. Enquanto a estabilidade e a oxidação são resolvidas com uso de aditivo, o índice de iodo não. Só se resolve fazendo misturas de biodiesel de diferentes matérias-primas.

E quais as conseqüências?

Antonio Bonomi
Ainda não se sabe, pois não há estudos sobre isso. E pior, os testes que foram feitos, que a própria indústria automobilística acabou conduzindo, usaram biodiesel dentro das especificações. Essa é uma crítica que sempre faço. Normalmente eles usam um biodiesel que tem condições ideais de manuseio, coisa que a gente sabe que no dia-a-dia do mercado não ocorre. A sorte é que essas misturas de 3% e 5% são misturas que precisariam de muito uso para que se detectasse algum problema.

O Brasil deve buscar uma especificação única com os Estados Unidos e Europa ou seria melhor para o país uma especificação diferente?

Antonio Bonomi
É fundamental buscar a unificação das especificações, pois o Brasil é um potencial exportador de biodiesel. Claro que é preciso verificar alguns aspectos, como o uso de aditivos.

E como fazer para adequar as especificações à diversidade das matérias-primas nacionais?

Antonio Bonomi
Geralmente a especificação dá um valor máximo e mínimo para cada característica. Será preciso fazer com que todas as matérias-primas caibam dentro de uma faixa. Aí o produtor tem a opção de encaixar a matéria-prima dentro da especificação ou fazer misturas. O caso da mamona é típico. E não existe milagre, não há como fazer com que na produção a densidade e viscosidade do biodiesel caiam nos limites que são colocados na especificação. Para que isso ocorra é preciso fazer mistura e só será possível colocar no máximo 20% a 30% de biodiesel de mamona. Na medida em que cada matéria-prima dá um produto com algumas características diferentes, é preciso definir quais são as características importantes. É necessário resolver a questão da estabilidade e oxidação, talvez com um número mais rígido, pois isso determina por quanto tempo o produto pode ser armazenado entre a produção e comercialização. Estudos aprofundados sobre essa questão precisam ser feitos.

Essa diversidade é boa?

Antonio Bonomi
Sim. O problema é que não temos ainda “a” matéria-prima, como no álcool se tem a canade- açúcar. E a soja nem de longe é a mais indicada, apesar de ser a mais usada. Se considerarmos um programa do porte do Proálcool, hoje nós estaríamos falando de uma área plantada de soja absurda, ainda mais se pensarmos no Brasil como fornecedor mundial. Então é necessário o esforço e o engajamento de instituições como a Embrapa para acelerar o processo de novas culturas, como pinhão-manso. Estudos com algas também são fundamentais e nós não vemos um esforço coordenado do governo em buscar esse equacionamento.

 Além da mamona, quais outras matérias-primas no Brasil têm problemas em termos de qualidade?

Antonio Bonomi
Nas questões de estabilidade e oxidação a soja é o grande problema, pois exige uso de aditivos. No sebo bovino o problema é o ponto de entupimento, que atinge as regiões mais frias do país e até regiões do Nordeste, onde há temperaturas baixas à noite.

Existem hoje laboratórios de referência em biodiesel em todos os Estados brasileiros?

Antonio Bonomi
Com certeza não e são poucos os Estados que estão aptos a fazer toda a especificação do biodiesel. O problema é que o custo ainda é muito elevado, então nem todos os produtores têm a possibilidade de enviar amostras para esses laboratórios e obter a validação da qualidade de seu produto.