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Antonio Bonomi: Primeira especificação e qualidade


BiodieselBR.com - 03 mar 2007 - 12:45 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 09:51
Revista BiodieselBR Como foi o processo de elaboração da primeira especificação do biodiesel, a ANP 42?

Antonio Bonomi
O que se entendeu na época é que era necessário ter um sucedâneo para o diesel, assim como havia o álcool para a gasolina. Claro que naquele momento havia muita dificuldade. Alguns estudos foram iniciados na década de 80, pouco após o lançamento do Proálcool, mas o fato é que a maioria foi descontinuada por causa da queda no preço do petróleo e das dificuldades econômicas. E isso fez com que existissem poucos grupos estudando biodiesel e pouca experiência das montadoras de veículos. Então havia uma boa dose de desconfiança em relação ao produto e se ele tinha a qualidade desejada.

Quanto tempo durou esse processo?

Antonio Bonomi
Foram seis meses de discussão para a primeira elaboração, que foi fortemente baseada na especificação européia porque havia pouco conhecimento no Brasil sobre o produto. Foram ouvidos alguns grupos, possíveis detentores de tecnologia para produção de biodiesel, como a UFPR e a UFRJ, que tinham alguns trabalhos em andamento. Na época não havia produtores – no máximo grupos interessados em produzir biodiesel – mas existiam os laboratórios, os órgãos ambientais e as montadoras. Então um pouco com base nessa participação é que se chegou a uma primeira proposta, que era uma especificação experimental, pois não havia o produto nem a obrigatoriedade da mistura. O programa foi criado depois da ANP 42.

Como está a qualidade do biodiesel brasileiro?

Antonio Bonomi
Não se tem muitos dados sobre isso. A informação sobre a qualidade, que os produtores deveriam informar à ANP, era falha. Havia muita produção em que a qualidade não era informada à agência. E uma informação do produtor não é necessariamente correta, até por problemas no próprio laboratório das usinas, que pode não ter valores precisos.

 Também não há precisão sobre os percentuais de uso de cada matéria-prima...

Antonio Bonomi
O que é mais sério, na minha opinião, é que quando um programa como esse é lançado e quando há uma especificação, significa que você precisa ter dados tanto da produção quanto do uso. Então é preciso haver testes que mostrem qual é o problema que se pode ter com um biodiesel fora de especificação, se não você fica exigindo alguns parâmetros muito rígidos, que eventualmente não são necessários. Valores muito rígidos significam encarecimento – e estamos falando de um produto que tem dificuldade de viabilização econômica. Ainda é preciso baixar o custo de produção.

Então não há estudos sobre este assunto?

Antonio Bonomi
O Brasil não tem estudos aprofundados sobre isso e eu acho que Europa e EUA também não. Agora a postura na definição da norma européia é a seguinte: o produtor tem que provar que o biodiesel não tem problemas. No Brasil quem faz isso são as montadoras, que representam o consumidor. Quem vai ter que arcar com o ônus final é o consumidor.

Isso não seria de responsabilidade da ANP?

Antonio Bonomi
Eu acho que a ANP deveria, sem dúvida nenhuma, coordenar o esforço junto aos ministérios relacionados ao programa para garantir que esses trabalhos sejam feitos.