Como as Petrolíferas encaram o Biodiesel
// 04 outubro 2006 // Biodiesel
Vocês lembram do dia que um executivo sênior da Shell (Royal Dutch Shell), disse que era “moralmente inadequado” o uso de oleaginosas para biodiesel? Esse funcionário afirmou que a Shell vai optar pelo desenvolvimento de alternativas, como a produção de biodiesel a partir de madeira e resíduos vegetais (a chamada segunda geração do biodiesel, que falaremos em breve sobre ela).
A notícia não passou em branco, provocando declarações fortes e indignadas de nossos leitores, que não ficaram sozinhos, pois descobrimos que a notícia da Reuters provocou reações similares em todo mundo, a ponto do chefe de biocombustíveis da Shell, Darran Messem, aparecer tentando desvincular a empresa dos comentários do executivo:
Os comentários feitos não representam inteiramente a política ou posição da Shell sobre biocombustíveis
Não surtiu qualquer efeito. Ficou bem claro a intenção da Shell de nesse momento, deixar em segundo plano a produção de biodiesel. Não fosse esse problema dos alimentos, eles provavelmente pensariam em outra motivo contra, afinal poderiam investir em biodiesel de pinhão manso ou qualquer outra oleaginosa que não esteja apta para alimentação.
Muitas companhias petrolíferas como a Shell e a Exxon, estão procurando investimentos em alternativas (como a energia solar e eólica) que não concorrem diretamente com o negócio deles de petróleo e gás. A Shell, ao dizer que vai investir no desenvolvimento de biodiesel através de um processo que necessita de muita pesquisa, tenta adiar o desenvolvimento desse biocombustível para não afetar a sua lucratividade. E o hidrogênio é encarado por essas empresas da mesma maneira.
Se a Shell fosse tão moralista e realmente quisesse ajudar em combater a fome no mundo, poderia vender seu petróleo a preço de custo aos paises pobres e não com 800% de lucro.
Sabem que o custo de um barril de petroleo prospectado tambem pela Shell não custa mais que U$ 10,00 e foi vendido até a U$ 78,00.
Imoral é ter lucro deste tamanho.
Equanto poucos ganham, muitos morreram de fome…
A Agroenergia e a produção de alimentos – 10 NOV 2006/11/09
Entrevistado: Eng.º Agr.º TELMO HEINEN – (61)9989-6005
Consultor de Agronegócios
Formosa (GO)
1) Na sua opinião a Agroenergia tomará o lugar da produção de alimentos?
R: Em parte. A cana-de-açúcar apesar do açúcar que é alimento, desloca outras culturas para aumentar a produção de álcool.
No entanto esta lavoura sofre uma rotação em 15 a 20% da área/ano, geralmente feita com soja e agora tem a perspectiva de ocorrer com girassol em função do Programa de biodiesel.
A expansão da cultura tem avançado preponderantemente sobre áreas de pastagens degradadas, não influindo ainda sobre a produçãode alimentos.
2) Mas as cotações dos produtos agrícolas nas Bolsas tem aumentado por conta dos biocombustíveis, principalmente pelo uso do milho pelos americanos…
R: Os americanos já estão usando 42 a 45 milhões de t de milho para fazer etanol. A expectativa é que em 2007 este volume passe para 54 a 55 milhòes de t, portanto um aumento da demanda interna mas é bom lembrar que cada t de milho, além de produzir 400 a 425 litros de álcool, deixa de 300 a 310 kg de resíduos secos para fazer ração, com teor de proteina aumentado, já que o milho tem somente 9,0 % de proteina. Ele é um alimento energético.
No biodiesel dos americanos a maioria do óleo provém do óleo usado em frituras, só para se ter uma idéia, são alguns bilhões de litros por ano.
3) E aqui no Brasil a mamona vai dar conta de fornecer todo óleo para fazer o biodiesel que as fábricas já venderam para a Petrobrás ?
R: Certamente que não. Ainda ontem a Conab divulgou a previsão de área de mamona para a próxima safra que passará de 150 para 180 mil hectares com média abaixo de 1.000 kg/ha.
O biodiesel a partir da mamona é muito mais um programa social do que de biocombustíveis. Aliás na própria Lei do Selo Combustível Social o detentor se obriga a adquirir matéria prima a partir da agricultura familia mas a mesma lei não obriga a utilizar esta matéria prima para fazer o biodiesel.
O industrial pode muito bem extrair o óleo de mamona e vendê-lo no mercado a um preço superior e por ouro lado adquirir qualquer óleo mais barato para fazer o biodiesel vendido. No momento o óleo mais barato é o de soja, e, até outro dia ele era exportado abaixo do preço do petróleo.
4) Então o perigo da produção de alimentos sofrer com a produção de agroenergia não existe?
R: Não. As pessoas não fazem idéia, quanto mais óleo que se queira para fazer biodiesel, mais farelo sobrará e farelo contém muita proteina e alimenta muito.
O que estava acontecendo é que a soja estava tão barata que inviabilizava a produção de outros óleos.
Para o Brasil fazer seu biodiesel de óleo de soja, basta diminuir a exportação de óleo, sua cotação subirá em Chicago até chegar nuns 700 dólares/t,viabilizando a produção de outras culturas que estavam sendo deixadas de lado como o girassol, amendoim, gergelim, linho, canola e tantas outras.
Não tinha sentido o país exportar óleo de soja por um preço inferior ao do petróleo, aliás no momento o Brasil ainda exporta óleo de soja pelo mesmo preço que importa óleo diesel, o que é um absurdo – daí a elevação das cotações ser normal.
5) E o Pinhão Manso ?
R: É uma planta de muito futuro juntamente com a palma do dendê e além disto ainda temos o babaçú, a macaúba, até o Pequi e lá no sul o Tungue – as culturas perenes tem um rendimento maior por hectare.
A mamona infelizmente produz um biodiesel de péssima qualidade e o seu futuro está reservado para uso mais nobre como fazer lubrificantes.
Portanto o óleo de mamona e o óleo de soja serão usados transitoriamente para biodiesel e no futuro as grandes quantidades virão das outras plantas e que serão cultivadas em áreas marginais para a produção de alimentos.
Além disto temos o Nabo Forrageiro, excelente para a safrinha e para a rotação de culturas, que só não vem sendo plantado porque era muito barato, mas com o aumento do preço do óleo de soja, fica viável.
6) Por ocasião do lançamento do H-Bio foi dito que haveria uma demanda maior para a soja de mais de 1 milhão de toneladas. Isto pode contribuir para melhorar os preços da soja ao produtor?
R: Sim, mas não da forma como estão pensando. O que deve ocorrer é uma exportação menor de óleo de soja e não um aumento da moagem porque o mercado de farelo é limitado.
7) Outros alimentos podem ser afetados ?
R: Temos um caso curioso que é o do arroz. No futuro, com a escassez do Silício a casca do arroz se tornará valiosa. Já existe uma Termelétrica em Alegrete no Rio Grande do Sul, fazendo a queima controlada para salvar o silício além de produzir energia elétrica através desse calor. A sílica é usada na indústria de micro computadores e também na produção de placas fotovoltaicas para a captação de energia solar. Já pensou no futuro todas as casas cobertas com placas solares, injetando energia na rede elétrica ? De noite retira parte…e no fim do mês faz um acerto de contas com a Companhia… é mais um aumento de alimentos…
Abs,.
Considerando que o biodiesel já é um caminho sem volta, acredito que as petrolíferas a exemplo até da Petrobras devessem montar suas próprias refinarias de biodiesel, fomentando a produção de oleaginosas e destinando recursos(advindos de seus lucros MORALMENTE INADEQUADOS) para pesquisas e financiando a produção.ISTO SIM SERIA MAIS INTELIGENTE!
mottabiodiesel@hotmail.com