Quanto custa não produzir biodiesel?
// 14 maio 2009 // Biodiesel
O Prof. Donato Aranda no último texto do seu blog foi pontual e preciso ao fazer a pergunta que dá título a este post. Vou rapidamente tentar responder com números esta questão e elucidar economicamente as vantagens do B4 sobre o B3. No final levanto um ponto que considero crucial para o setor.
O aumento da mistura em um ponto percentual significaria um aumento do consumo de biodiesel em cerca de 110 milhões de litros para o terceiro trimestre. Consequentemente a mesma quantidade de diesel deixaria de ser importada.
Mantidos os mesmos percentuais de matérias-primas de março de 2009, para produzir essa quantidade de biodiesel seriam necessários 82 mil toneladas de óleo de soja, ou 7,58 milhões de sacos de soja. Se considerarmos um preço médio da soja de R$ 43,00 a saca de 60 quilos, teremos uma movimentação financeira de R$ 326 milhões de reais pagos ao produtor rural. A indústria de extração vende o farelo correspondente, cerca de 364 mil toneladas a R$ 760,00 por tonelada e movimenta mais R$ 276 milhões de reais e vende para as usinas de biodiesel 82 mil toneladas de óleo de soja a R$ 2.000,00 a tonelada, faturando mais R$ 164 milhões de reais. As usinas de biodiesel vendem o biodiesel nos leilões (93,5 milhões de litros) a R$ 2,30 mais ICMS (12%) faturando R$250 milhões de reais.
Só na produção de biodiesel de soja (85% do total) para atender uma demanda trimestral de mais um por cento de mistura a movimentação financeira seria de R$1,016,000,000. Isso mesmo, um bilhão e dezesseis milhões de reais.
A produção dessa quantidade de biodiesel necessita de outras matérias-primas como o metanol, etanol, catalisadores e energia que não foram considerados na conta acima.
Como não foi autorizado o aumento para o B4, teremos que importar o correspondente em diesel pronto. Tomando como base os dados da ANP de custo do diesel importado do mês de março de 2009, a importação de 110 milhões de litros exige uma remessa de R$90,6 milhões de reais para o exterior. Ou seja, além dessa óbvia evasão de divisas, não produzir biodiesel custa para o país diminuição de empregos, renda e impostos.E se não bastasse este lado puramente econômico, ainda temos as vantagens ambientais, a geração de empregos, o fortalecimento da indústria nacional, e a lista continua…
E ainda tem uma situação que considero de extrema gravidade e que afeta diretamente a credibilidade dos responsáveis pelo gerenciamento do PNPB. Estou me referindo as manifestações públicas de autoridades do governo sobre a antecipação da mistura. Do ponto de vista empresarial, muitas ampliações e investimentos em novas usinas partiram dessa perspectiva de ampliação.
E não são apenas possibilidades aviltadas em congressos ou entrevistas pelas personalidades do governo. No último leilão, com a presença de todas as usinas, foi confirmado a adoção do B4, que não se concretizou. Essa indefinição ressalta a desorganização do programa. Como exemplo veja o que aconteceu no início do mês, quando ouvimos o superintendente da ANP, Edson Silva, falar em um leilão para 380 milhões de litros, ou seja, para o B4. Claramente existe uma falta de comunicação entre a ANP e o MME.
E hoje mesmo o Ministro Edison Lobão, após se reunir com o presidente Lula, afirmou que antecipará o B4 para julho, no entanto tal medida precisará de aprovação do CNPE. Esta afirmação do ministro soa tão vazia quanto as demais, feitas em situações anteriores. Primeiro que a reunião do CNPE não tem data para acontecer e ainda pode nem acontecer em junho. As promessas já cansaram.
Difícil dizer quem é o maior prejudicado, se os cofres públicos, ou as indústrias privadas que investiram no setor com a perspectiva de crescimento da demanda. A resposta talvez não seja nenhum dos dois, possivelmente o prejuízo maior é do Brasil, que assiste ao enfraquecimento de uma parte da sua indústria.
[…] oficalizando o B4. Isto já era esperado a algum tempo e depois de tanta discussão (aqui, aqui e aqui), é um certo alívio para as usinas que estão batendo recordes de […]
[…] na nossa balança de pagamentos. No entanto este incremento proporciona muito mais que isso, tanto no aspecto financeiro como em outras […]