Mamona não funciona no Rio Grande do Sul
// 29 outubro 2009 // Matéria-prima
Assisti no final de agosto uma palestra do Doutor Marcelo Gonçalves M. D’oca da Universidade Federal do Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Em sua apresentação o professor relatou pesquisas sobre plantio e utilização da mamona para biodiesel no Rio Grande do Sul.
Achei que o plantio da mamona já estivesse encerrado no Rio Grande do Sul depois de alguns anos de tentativas frustradas de plantio e produção. Embora o trabalho apresentado pelo professor seja em relação a pesquisas, me parece que o foco da pesquisa não está de acordo com a realidade.
No RS a mamona deve ser plantada na safra de verão pelo pequeno produtor. E aí está o grande problema, é preciso trocar o plantio de milho, feijão, soja etc., pelo plantio de mamona. Essa substituição de produtos alimentares por plantas para a produção de biodiesel é tudo o que os acusadores precisam para bater mais nos biocombustíveis como responsáveis pelo o aumento do preço dos alimentos. Plantar mamona no RS é dar arma para o bandido. E tudo o que o biodiesel não precisa hoje é de pessoas armadas contra o setor.
Quanto as pesquisas da FURG, nada contra. Acho apenas que os pesquisadores devem mudar o foco de suas pesquisas. Ao invés de pesquisar melhores práticas para o plantio de verão, devem efetuar pesquisas sobre a adaptação da mamona para ser plantada no inverno, desenvolvendo uma mamona que seja resistente à geada.
O Rio Grande do Sul planta cerca de 5,5 milhões de hectares na safra de verão e apenas um milhão de hectares no inverno. Sobram 4,5 milhões de hectares que são subaproveitados durante seis meses do ano. A maior parte dessa imensa área é propícia para o cultivo de oleaginosas de inverno, que poderá ser usada inclusive para plantar mamona. É preciso somente que os pesquisadores desenvolvam uma variedade resistente a geada.
Ao contrário do que sai constantemente na grande imprensa brasileira e mundial, a produção de biodiesel deve caminhar para o aumento da oferta de alimentos, e não o contrário, como vem sendo divulgado. Para o biodiesel alcançar essa posição o caminho está aberto, ou melhor, as lavouras estão prontas. Não será preciso derrubar uma única árvore, basta apenas organizar cadeias de produção de canola, crambe, girassol, nabo forrageiro, entre outras plantas. Assim serão utilizados com eficiência esses milhões de hectares que de março a outubro nada é plantado.
Milhões de hectares produzem bilhões de quilos de grãos a mais. Um terço desses grãos pode virar biodiesel e dois terços são transformados em ração animal. Com aumento da oferta ocorre a redução dos preços. Essa é uma lei antiga do mercado, que aqueles que vão contra o biodiesel parecem não enxergar.
Univaldo Vedana