Lições do Setor Norte-Americano de Biodiesel
// 29 março 2010 // Biodiesel, Internacional
Não é apenas no Brasil que os trâmites entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal demoram pelo menos alguns meses. No dia 9 de dezembro de 2009, por 241 votos a 181, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou a renovação por mais cinco anos do crédito fiscal para o biodiesel, que veio a expirar em 31 de dezembro de 2009. Todavia, culpando as longas discussões causadas pela nova lei da saúde (Health Care Reform), o Senado americano ainda não votou a extensão do benefício.
Na verdade, o crédito aplica-se ao biodiesel e ao diesel renovável, ou seja, o diesel produzido a partir de biomassa por pirólise, gaseificação ou hidrotratamento (leia mais aqui). O incentivo federal é de US$ 1,00 por galão (US$ 264 por metro cúbico), e existe também um crédito extra de US$ 0,10 por galão (US$ 26,40 por metro cúbico) para o biodiesel produzido em pequena escala em regiões agrícolas.
Desde que o incentivo passou a valer, o produtor tinha que vender o biodiesel basicamente ao preço do diesel de petróleo se desejasse vender o produto a qualquer consumidor de diesel. Para se ter uma idéia, na Flórida, hoje, o preço do diesel está em cerca de US$ 2,60/gal. Levando-se em conta o preço da matéria-prima, mais os gastos com processamento, distribuição e comercialização, o biodiesel custa os mesmos US$ 2,60/gal . Ou seja, só é possível conseguir algum lucro com o incentivo de US$ 1,00/gal.
Desde o dia 1o de janeiro de 2010, os produtores não podem contar com esse incentivo, o que significa que não há viabilidade para a produção e, conseqüentemente, quase a totalidade das cercas de 170 fábricas dos Estados Unidos estão paradas.
De imediato, alguns consumidores tradicionais de biodiesel, como escolas, bases militares, entre outros, estão pagando até US$ 3.30/gal pelo pouco de biodiesel que se produz para garantir o fornecimento. Logicamente, todos apostam na aprovação da extensão do incentivo pelo Senado, com data retroativa a 01/01/2010.
Mesmo nesse quadro otimista, existem conseqüências irreversíveis à indústria americana. Uma delas é o caso da glicerina. A interrupção abrupta da produção de biodiesel está criando uma nova corrida pelo glicerol produto nos EUA. Uma vez mais, pelas inúmeras vantagens logísticas, a Argentina possui os melhores números financeiros com relação ao Brasil no custo de exportação da glicerina bruta para os EUA.
Entre as muitas lições que devemos tomar dessa situação americana, que poderia ser uma ótima oportunidade para escoar boa parte de nossa glicerina, está a necessidade de se investir na estrutura de logística. Outra é a necessidade de criar um marco regulatório definitivo para a consolidação de nossos programas de biocombustíveis. Isso seria fundamental para dar maior segurança aos investidores no país, sobretudo com a possibilidade de mudança de governo em 2011.
Donato Aranda