Biodiesel B4 ou Diesel D96?

// 09 julho 2009 // Biodiesel

Biodiesel b4 - Diesel d96

Biodiesel B4 - Diesel D96?

Muito antes da exploração espacial, Julio Verne descreveu um grandioso sonho do ser humano, paradoxalmente ainda mais enigmático. A viagem ao centro da Terra. Quase tudo que vivemos e conhecemos encontra-se sobre uma fina camada da superfície de nosso planeta. Mais de um século após a publicação de “A journey to the center of the Earth” permanece um conhecimento proporcionalmente rudimentar sobre as características da maior parte do interior do planeta. Para profundidades superiores a 1000 km, pouco se sabe a mais do que nossos antepassados descrevem na literatura javista ou deuteronômica referindo-se a esse interior como “hades” ou “xeol”. Numa região mais próxima à superfície, inegáveis avanços existem. Destaque recente deve ser dado as novas descobertas de petróleo na camada “pré-sal” com honras e méritos tecnológicos para a nossa Petrobras.

Extendendo o raciocínio, contempla-se que o principal conhecimento sobre as características do interior de nosso planeta remete para a exploração e produção de combustíveis fósseis. Creio que a grande maioria dos leitores desse blog são sabedores dos problemas associados ao uso maciço e crescentes de petróleo, gás natural e carvão. Sabem também que o combustível fóssil líquido denominado diesel é apenas um dos inúmeros derivados fósseis que temos em nossa matriz energética.

Do despojamento quase que heróico de alguns e da sensibilidade do atual governo, surge o PNPB, o arcabouço regulatório do biodiesel, a Lei 11.097 de Janeiro de 2005 e, espichando resumidamente a linha da história, o início do uso do B4, em Julho de 2009.

Por mais que sejam significativos os números e, sobretudo, a taxa de crescimento da produção de biodiesel no Brasil, a análise concreta da realidade concreta mostra que temos um B4 que na verdade é um D96!

Sim, 96% de Diesel! Vinte e quatro vezes mais diesel que biodiesel no Brasil. Vinte e quatro vezes mais problemas de poluição, vinte e quatro vezes menos promoção social trazida com empregos no campo. Seja do agronegócio (que também gera empregos, sobretudo indiretos) ou mais diretamente, da agricultura familiar.

Pode ser desconfortável ou parecer chato fazer menção desses números. Mas o fato é que, mesmo com o B4, ainda fico profundamente sufocado quando meu carro fica no trânsito atrás de um caminhão, de uma van, ou de um ônibus. Esses veículos continuam despejando sobre meu rosto aquela fumaça negra terrível, cheia de óxidos de enxofre e uma série de poliaromáticos carcinogênicos. Será que isso só ocorre comigo? A verdade, é que o B4 ainda é muito pouco. Trata-se uma mera casquinha da superfície de uma realidade chamada “D96”.

Felizmente trabalha-se para mudar essa realidade. O site BiodieselBR mostrou há poucos dias o esforço da Ubrabio em oferecer à sociedade um crescimento para B10 em 2015 e a proposta de um “B20 já” para regiões metropolitanas. Apesar de ser ainda um mero “D80”, já poderemos perceber melhoras sensíveis, inclusive com redução de gastos na saúde pública com a mitigação de problemas respiratórios. Sobretudo no inverno, onde ocorre o fenômeno de “inversão térmica”.

Paralelamente, comparando com o Programa do Álcool, alguém poderia dizer que o B20 seria uma aproximação dos valores de 20 a 25% de etanol que já temos na gasolina. Essa interpretação não é correta. Atualmente, a maior parcela de consumo de álcool, deve-se a oferta de etanol puro (hidratado) existente nos postos ao longo de todo o território nacional. Essa iniciativa presente desde o início do Proálcool vem sendo fundamental para o sucesso desse biocombustível no Brasil. Esse mecanismo tem sido um dos principais vetores da chamada “learning curve” que fez o custo de produção do álcool da cana reduzir-se tanto.

Alguém poderia dizer que isso seria inviável para o biodiesel nas regiões metropolitanas, onde o diesel é bem mais barato.

Mas que tal promover a oferta alternativa do B100 diretamente nas bombas, pelo menos nas regiões Norte e Centro-Oeste? Na maior parte desses lugares, o diesel é bem mais caro e a produção de biodiesel cresce a passos largos. Esse modelo, associado ao B20 metropolitano seria um processo “auto-catalítico” para acelerar a redução nos custos de produção do biodiesel sob o sistema de mercado livre.

Empresas como a Petrobras e a Vale têm mostrado que pensam grande no assunto biodiesel. O Brasil como um todo precisa pensar no mínimo como a Vale. De forma arrojada e muito bem fundamentada essa empresa estará com B20, em breve. Trata-se simplesmente do maior consumidor brasileiro de diesel.

Catálogo do biodiesel 2010



5 Comentários em “Biodiesel B4 ou Diesel D96?”

  1. André Ramos disse:

    Brilhante comparação, Donato !

  2. DULCIDIO MANGUEIRA disse:

    Aqui na UNEMT testamos tratores agrícolas com o uso do B00, B50 e B100 em condições normais de operação, desemvolvendo as mesmas atividades, por mais de 4 mil horas de trabalho e o resultado foi excelente. Portanto, sugerimos B100 para máquinas agrícolas.

  3. Edmilson santana de almeida disse:

    O BIODIESEL VAI MUDAR O COMPORTAMENTO DO NOSSO PLANETA TERRA ; DEVIDO A QUEIMA DO OLIO DISEL ESTA AUMENTANDO A POLUIÇÃO DA TERRA . Mas com a chegada do novo combustivel essa poluição vai dimir .

  4. THYAGO MARTINS COSTA disse:

    Muito bom saber o resultado desse teste Dulcidio. Não sei se é do seu conhecimento ou tão pouco se existem dados, mas quanto que o uso do diesel em máquinas agrícolas corresponde ao total do uso nacional?

  5. vandinalva disse:

    será q com o aumento do diesel metropolitano viveremos melhor e nosso planeta nao será tb melhor?

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