Soja: Vilão ou Solução?
// 10 agosto 2009 // Matéria-prima
Em um país onde o futebol invariavelmente ocupa tanto espaço na mídia quanto assuntos políticos, é natural que o vício de eleger-se um culpado pelo insucesso de nossos times acabe contaminando outras esferas de nossa reflexão.
O biodiesel é um time vencedor no Brasil. Em uma agilidade de implantação sem precedentes na indústria nacional passou-se de reatores bateladas de 100 ou 500 litros das universidades, para plantas industriais de 300 a 600 mil litros/dia de produção contínua. De um ou dois ônibus com B1 ou B2 há seis, sete anos atrás, passamos para 4% do diesel em todo território nacional. De plantas piloto de demonstração passou-se a cerca de 3 bilhões de litros/ano de capacidade instalada. Lembro bem que pelos anos de 2004-2005, obter-se alguns galões de biodiesel para testes em motores era uma dificuldade grande. Agora, cidades como Curitiba (PR) já iniciaram experiências mais avançadas como o uso de B100 em algumas empresas de ônibus.
Apesar de tantas vitórias, o cacoete cultural elegeu um vilão no biodiesel. Invariavelmente aponta-se o uso da soja como principal matéria-prima do biodiesel brasileiro como um grave problema. Paralelo a isso, é bom que se diga de pronto, que com muita freqüência em palestras e seminários recebo pergunta do tipo: “Professor, se o senhor tivesse dinheiro para investir na produção de matérias-primas para biodiesel, qual seria a sua opção?”. Não, a minha resposta não seria a soja. Mas será que ela é mesmo um vilão? Vamos examinar alguns pontos que poucas vezes são abordados conjuntamente:
1. O uso da soja como insumo para biodiesel compete com os alimentos
Os grãos de soja possuem cerca de 18 a 19% de óleo. A produção de farelo de soja é quatro vezes maior que a produção de óleo de soja. O farelo de soja é a principal fonte de proteína para ração de frangos, suínos e bovinos em confinamento. O farelo de soja “vira carne”.
O que é mais importante na alimentação? as carnes (de animais ou mesmo a “carne de soja”) ou o óleo de soja? Na verdade o óleo de soja não é o melhor óleo nem para saladas (fora o azeite de oliva, os óleos de canola e girassol são melhores, com menor teor de saturados que o óleo de soja) nem para frituras, onde óleo de palma e algodão são muito mais estáveis no calor das frigideiras e geram muito menos peróxidos que o óleo de soja (os peróxidos geram radicais livres no organismo). Se eventualmente houver um aumento na produção de soja no Brasil com a finalidade de gerar mais óleo para produzir mais biodiesel, automaticamente estaríamos produzindo quatro vezes mais farelo de soja. Isso seria muito positivo para baratear os custos de produção das carnes que vão para a mesa do consumidor.
2. A soja promove o desmatamento da Amazônia
Quanto maior a produção de farelo de soja, a tendência dos preços desse insumo seria de queda. Quanto mais barato esse farelo, mais atrativo seria a produção de gado em confinamento. O Brasil possui mais de 100 milhões de hectares ocupados por pastagens. Essa prática tem sido, disparado, a principal atividade agropecuária promotora de desmatamentos, inclusive na Amazônia. A ampliação das criações em confinamento mitigaria esse efeito. Como podemos ter isso? Com ração mais barata, com farelo de soja mais barato, com mais biodiesel de soja…
Existe desmatamento promovido pela soja? Sim, existe. Muito menos que as pastagens, mas existe. Essa existência pode e deve ser combatida. Mais e mais são exigidas certificações ambientais, rastreamentos e índices de sustentabilidade que devemos adotar sem complacência. Mas esses problemas não justificam a crucificação da soja.
3. Outra linha de raciocínio aborda que a cultura da soja é intensivamente mecanizada
Não geram-se tantos empregos como provavelmente culturas como a mamona ou pinhão-manso poderiam gerar. Por isso a cultura da soja não deveria ser promovida.
Bem, na minha opinião esse é outro mito. Quando visitamos os estados do Centro-Oeste (e me refiro não apenas as capitais, mas sobretudo o interior dessas regiões) não observamos os bolsões de pobreza comuns aos demais grandes centros urbanos, comuns também no interior do Nordeste, algumas regiões do interior de Minas Gerais e mesmo o interior do Rio de Janeiro. A distribuição de renda e a prosperidade florescem sim nas regiões de agronegócio, mesmo de culturas mecanizadas! Se na colheita não se cria tantos empregos diretos, nos setores de serviço são gerados muito mais empregos indiretos do que nas culturas de colheita manual. Basta fazer uma visitinha a essa regiões e ver de que realidade estou falando.
Não, a soja não deve ser considerada a única solução. Até porque todos sabem dos problemas da monocultura. Porém, nada de preconceito e desinformação contra essa cultura que é um belo fruto de muita pesquisa feita pela Embrapa e outros grupos.
Qual a cultura que aplicaria meus vencimentos? Bem, deixaremos isso para outro post em meu blog…
Donato Aranda
Parabéns prof. Donato. Perfeito suas ponderações e informações. Os técnicos brasileiros e estrangeiros devem rever seus conceitos sobre o soja, seguindo sua linha de raciocínio.
Parabens professor pelo brilhante artigo a respeito desta polêmica criada pelos ambientalistas em torno da soja e agora mais recente do nosso boi.Tudo isso é culpa do governo que fica ouvindo essas ONGS, nacionais e principalmente internacionais de olho na Amazônia, os artistas de novela da Globo, a mídia desinformada , inclusive o ministro Minc que estar mais para bobo da corte do que para meio ambiente. Essa turma deve se alimentar doravante somente de folhas da vegetação nativa.
GRANDE DR. NADA MAIS PRECISA SER DITO
Abaixo o preconceito!
A soja tem seus dias contados como matriz energetica do biodiesel, sem falar das restrições mundiais que apartir do próximo ano nos acordos que estão sendo firmados pelos paízes preocupados com o aquecimento global.Não se queima comida para fazer combustivel , e isso nós vamos ter de aprender muito bem aqui.
A produção do complexo soja é rigorosamente deficitária em energia e nunca deveria ser matriz de nada. Só escandalosos subsídios diretos o sustentam.
Em economia existe uma referência que chamamos de VALOR que é o que pagamos por determinado bem da economia.
A soja devido a grande demanda do mercado internacional,principalmente da China e Índia,estar com seu valor ascendente,são 50 000 000 de bocas/ano que são acrescentadas.
Produzir soja é realmente mais do que quatro vezes produzir alimento pois de seus 19% de óleo,a grande parte dele vai para consumo humano direto.
A questão estar em seus preços serem competitivos a ponto de serem matérias-prima para óleo combustível???
A produção mundial de soja estar em torno de 220 000 000 ton/ano sendo que 80 são dos EUA,60 do Brasil,40 da Argentina,16 do Paraguai e o restante de menores produtores e somente esses países são exportadores dessa commodity,não existe uma oferta mundial grande de soja,ela hoje está levemente abaixo da demanda e aí estar o grande entrave de se fazer da soja a matriz energética para biodiesel.
Portanto para volume grande de biodiesel,o que vislumbramos ser de grande oportunidade,é se fazer bioóleo a partir do etanol pois essa materia-prima continua com produção em ascenção,o volume por hc é alto,(6 700l/hc) e temos uma capacidade enorme de aumentar o plantio de cana.Um hc de soja somente produz entre 550 litros a 600 litros de óleo/hc.???
Portanto,considero a participação da soja no bioóleo como circunstancial mas o mercado é que tem demonstrado que se tem lugar de mais valor para soja do que biodiesel…
Sr. Ananias como e bom termos pessoas informadas sobre oque acontece com a soja no mercado mundial, e fortalecer mais nossa opinião de que a soja e um momento no processo do sucesso do biodiesel e não a solução.Cana de açúcar seria excelente mas seus custos de produção ainda se encontram caros mas nada de que não se pode resolver,a longo prazo devemos pensar no pinhão manso como uma ajuda ao meio ambiente,m pois necessitamos muito no momento atual e no futuro tambem.
e melhor apostar em plantas perenes (árvores ) si queremos um futuro . e melhor também evitar os transgénicos , todos ,enquanto não existe uma analisa global do trajecto desses pedacinhos de DNA que agem rigorosamento como qualquer vírus. soja ancestral com melhoramento sexuado talvez pode ser viável si o boi ficar confinado com um desmatamento zero.
ACHEI SUA EXPLICAÇÃO MUITO BOA PROFESSOR.A SOJA É E SERÁ MUITO USADA E APLAUDIDA POR TODOS EM RELAÇÃO AO BIO-COMBUSTÍVEL.
Ola professor Donato, parabéns pela matéria, realmente muito interessante sua analise. Sou aluno de economia da UFF – RJ e estou escrevendo minha monografia sobre os impactos ambientais da produção de biodiesel tendo como principal matéria prima a soja e gostaria que me indicasse algum material para pesquisa…
Desde já muito obrigado pela atenção…
na verdade acho que a soja biodiesel só compete com a soja alimento devido ao preço, se todo mundo pudesse, comprava óleo de algodão ou azeite de oliva!!! é como se o óleo de soja fosse “dentre os males, o menor” e mais barato! abç