Poker Face: O blefe das algas
// 25 março 2009 // Matéria-prima
Depois que a comunidade acadêmica apresentou um certo pessimismo em suas apresentações (pessimismo em parte pelo desconhecimento de outras disciplinas não dominadas pelos palestrantes, exemplo: engenheiro civil especialista em construir tanques do tipo “raceways” e que desconhece a fisiologia das algas) chegou a vez das empresas de algas se apresentarem no Algae Biofuels World Summit de São Francisco.
Empresas de algas? Sim, empresas dedicadas a esse tema!
E não são poucas não, citarei apenas algumas: Aurora Biofuels, Algaelink, Enhanced Biofuels, GS Clean Tech, Greenfuel Technologies, Greenshift, Live Fuels, Valcent Inc., Cellana, Petro Algae, XL Renewables, PetroSun, Green Star Production, Algenol Biofuels, OriginOils, Sapphire Energy, entre outras.
A maior parte dessas companhias levantou recursos (Venture Capital) de diferentes fontes tipo Private Equities e outros fundos, sobretudo em 2007 e começo de 2008 (a Sapphire Energy, por exemplo obteve mais de US$ 100 milhões de Bill Gates de acordo com o Scotia Capital).
O painel de debates com essas empresas não poderia ser diferente. Muita amarração e muito blefe. Me sentia no campeonato de Poker transmitido pela ESPN. Pudera, se essas empresas não apresentassem otimismo, sobretudo numa época de crise de crédito, os recursos certamente seriam cortados. Isso, aliás, a meu ver, parece inevitável para a maioria delas. Nenhuma produzindo sequer alguns litros de biodiesel de algas, ou mesmo óleo de algas. Que dirá os milhares de galões esperados…
Falando em biodiesel, esse não é o único destino desses estudos de algas. Alguns pesquisam a possibilidade de produzir etanol (a expectativa do bioetanol de celulose aqui nos EUA é muito grande e tida como certa para os próximos três anos), outros estudam a gaseificação ou a pirólise de micro e mesmo macro algas. Uma via no entanto parece descartada aqui: A produção de hidrogênio a partir das algas (como sonhado pelo arquiteto Iwamoto Scott. Vale a pena ver São Francisco, downtown do ano 2108). Infelizmente, até hoje, apenas algumas poucas bolhas de hidrogênio foram obtidas.
Uma vedete que encanta tanto os biólogos quanto os engenheiros é a Botryococcus braunii apta a produzir não apenas triglicerídeos ou ácidos graxos, mas diretamente hidrocarbonetos na faixa do diesel (Diesel Renovável). O problema dessa alga é uma taxa de crescimento menor que a maioria das outras espécies. Um prato cheio para pesquisadores.
Em um tom de grande esperança estão as empresas detentoras de termoelétricas (maciçamente presentes no evento), sobretudo as de carvão, uma vez que gastam fortunas em projetos de seqüestro de carbono injetando o CO2 em oceanos profundos ou em poços de petróleo. Sem dúvida, esses grupos torcem para que o “boom” das algas ocorra logo.
“Boom” esse que, para mim, vai acabar acontecendo mais cedo ou mais tarde. O Departamento de Energia dos EUA (DOE) pensa da mesma forma e está ampliando a liberação de recursos para pesquisas nesse tema.
Todavia, antes disso, muita bolha vai explodir no universo das algas.
Para quem quiser mais informações sobre pesquisas envolvendo algas nos EUA, um dos sites a se visitar é: http://www.orau.gov/algae2008/resources.htm
Donato Aranda
Caro Dr. Donato,
Menos blefe, mais trabalho! Isso é impossível para os ianques, mas 2008 os recompensou…
A pouco mais de duas semanas tive a oportunidade de apresentar um seminário sobre biodiesel de microalgas no curso de Especialização em combustíveis derivados da biomassa, na Universidade Estadual de Santa Cruz – BA, do qual sou discente, e tive a felicidade assisti-lo ministrando a aula inaugural do nosso curso no ano passado. Numa revisão de literatura compreendendo as publicações do 2007 até a presente data, a grande constatação é a enorme lacuna de conhecimento desde a biologia até a engenharia da produção de microalgas. Portanto, o momento é de trabalho, não de especulação.
O planeta precisa da viabilidade do óleo de algas.
Grande abraço, e parabens pelo novo espaço.
Meu caro amigo Donato! parabéns pelo novo espaço e pelas experiencias vividas!
Grande abraço….
Desejo-lhe muito mais sucesso!!
Considerando o balanço térmico em que funciona atualmente nosso planeta, somente soluções inovadoras como o biodiesel de algas será viável em algumas décadas… Cumpre agora seguir com as pesquisas sem queima de etapas. Quem sobreviver verá..
[…] EUA durante minha estadia em S. Francisco, no evento World Algae Biofuels Summit (veja mais aqui, aqui e aqui), na Europa, o etanol apresenta uma taxa de crescimento maior que o biodiesel. Vale destacar […]
Caro Dr Donato
congratulações para o movimento pró-desenvolvimento de soluções alternativas para biocombustiveis, e inserido neste contexto, também desenvolvo estudos de metodologias e procedimentos buscando o melhor desenho para plantas aceleradoras de crescimento de microalgas para produção em maior escala. Coadunamos que a Botriococus é a melhor especie para chegar a resultados mais consistentes, também que precisamos neste momento é de investimentos para desenvolver praticamente , isto é , por em pratica todo o esforço intelectual que nos pesquisadores já desenvolvemos e temos em mente. Pesquiso aqui no Brasil, e asseguro , que estamos muito bem situados perante outros países.
Estamos abertos sempre para fundos que objetivam desenvolver primeiro, para depois ter retorno do investimento. Lamentável, até o momento, verifico o contrario. Primeiro planos de estudo de viabilidade. Pesquisa é investimento à fundo perdido.
Abraços
Renato Ariboni
Biologo / São Paulo
Prezado Prof. Donato
É fato que é muita propaganda para pouco resultado em relação a este assunto (biocombustíveis de algas). Longe dos processos de síntese do biodiesel, porém, com alguma experiência em cultivo de microalgas (desde mililitros até tanques com 50m^3) penso que ao juntar as competências (e principalmente a infraestrutura já existente em diversas instalações, próprias para a aquicultura – é nosso caso) poderíamos unir esforços e economizar bastante tempo e muito dinheiro, privado e principalmente público. Ao contrário de cada grupo de pesquisa construir seu próprio laboratório de cultivo e sua própria experiência em cultivo de microalgas. Além disso, a maioria dos alegados especialistas em cultivo de microalgas tem desenvolvido culturas em poucos litros, enquanto que o pessoal da aquicultura vem trabalhando com volumes de até 50-100 mil litros (apesar da baixa produtividade). Quanto ao desenvolvimento dos cultivos, bem sabemos que muitos dos projetos em desenvolvimento no Brasil não tem qualquer possibilidade de escalonamento, são inúmeros os gargalos tecnológicos – e o pessoal envolvido nestes projetos, geralmente, não tem a menor idéia do que ainda vai ter enfrentar. Assim, ficamos a disposição para ajudar no desenvolvimento do passo seguinte (de milhares para milhões litros de cultura)necessário para que alguma empresa possa se interessar em produzir biodiesel a partir das microalgas.
Roberto Bianchini Derner
Departamento de Aquicultura
Universidade Federal de Santa Catarina