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Os gargalos para o aumento da mistura


Edição de Abr / Mai de 2011 - 31 mai 2011 - 13:04 - Última atualização em: 22 dez 2011 - 10:56

O Brasil importou 10 bilhões de litros de diesel pronto em 2010, o maior volume até hoje. Este ano devemos alcançar a marca de 13 bilhões de litros de diesel importados e estabelecer um novo recorde. Outra marca memorável é a capacidade ociosa de produção de biodiesel. São mais de 6 bilhões de litros autorizados a operar e uma demanda obrigatória de aproximadamente 2,5 bilhões de litros. Embora esteja inflada, essa capacidade extra poderia ser mais bem utilizada para impedir a quebra de um novo recorde na importação do combustível fóssil.

É claro que utilizar 100% do parque industrial seria uma situação exagerada, e ninguém em sã consciência quer que o Brasil passe a utilizar toda a capacidade que a ANP calcula ser a real, pois sabemos que iria faltar biodiesel. É preciso que seja estabelecido um novo horizonte para o setor. Uma nova lei que mostre o que faremos com o biodiesel nos próximos dez anos, com diretrizes claras e firmes. Só assim, acredito, serão feitos investimentos intensos em novas cadeias de produção de matéria-prima e em estrutura logística, tão necessárias neste setor.

Sabemos que o novo marco regulatório para os biocombustíveis está sendo trabalhado e esperamos que seja anunciado em 2011, mas para que isso aconteça será preciso vontade política. A presidente Dilma não se manifestou ainda nesses primeiros três meses de governo sobre suas intenções com o biodiesel. O que temos até agora dela é apenas uma entrevista positiva, mas pré-eleição, publicada na edição 17 desta revista.

Os benefícios do aumento de mistura são muitos. O Brasil exporta, com incentivos, 45% de toda a soja produzida. Isso siginifica 32 milhões de toneladas exportadas em 2011, enquanto uma imensa capacidade de esmagamento continua parada. Seguramente poderíamos processar mais 20 milhões de toneladas de soja por ano utilizando apenas as esmagadoras paradas ou subutilizadas. O óleo produzido poderia ser transformado em 4 bilhões de litros de biodiesel, 70% mais do que foi produzido em 2010. Quanto de riqueza dentro do Brasil seria gerada com esse biodiesel? E quantos bilhões de reais deixaríamos de gastar com importação de diesel?

A questão do preço caro do óleo de soja é um pouco mais profunda. Com incentivos para exportação de soja em grão, diminui a oferta de óleo no mercado interno, o que provoca o chamado descolamento do preço em relação ao mercado externo. Com o óleo, principal matéria-prima para a produção de biodiesel, mais caro, as indústrias repassam esse custo no preço final do biodiesel, tornando-o mais caro ainda. Se o incentivo fosse para exportação de óleo ou biodiesel, o descolamento do mercado internacional poderia ser invertido, com preços internos menores.

Aumentar a mistura e diminuir os incentivos à exportação de soja em grão é de grande interesse das usinas. A estas cabe apresentar estudos bem elaborados e imparciais mostrando as vantagens e desvantagens de cada um de seus anseios. A vontade política pode ser mais facilmente construída com argumentos sólidos.

Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel